Para que mudar "MEU JEITO" de ser?

Por Daniel Nunes em 14/01/2015

A mudança da atitude consciente não é nenhuma bagatela, pois a essência de uma atitude habitual é sempre um ideal mais ou menos consciente, santificado pelo costume e tradição histórica, fundado na rocha do temperamento inato. A atitude consciente é sempre, no mínimo, uma cosmovisão, quando não uma religião propriamente dita. (C. G. Jung, 1925)

Ao ler estas palavras de Jung, senti vontade de escrever um texto que pudesse esclarecer melhor esta questão que, de certa forma, ronda a todos nós: Por que e para que precisamos realizar mudanças em nós mesmos? Ou nas palavras dele, mudanças em nossa atitude consciente? Vou procurar responder essa pergunta a partir dos conceitos da Psicologia Analítica, bem como pela dinâmica que se observa em psicoterapia.

Quando Jung fala em “Atitude Consciente”, ele está falando de nossa personalidade consciente, ou seja, aquilo que sabemos de nós mesmos. Para a Psicoterapia Junguiana, a nossa parte consciente é apenas uma ilha formada a partir de um oceano inconsciente. Digo “a partir” porque entendemos que um bebe recém nascido ainda não possui a consciência do ego, que irá se desenvolver a partir de suas experiências. Assim esta ilha emerge aos poucos de um oceano profundo e misterioso e nos dá, além de outras coisas, esse sentimento de EU que necessitamos para sermos cidadãos deste mundo em que habitamos.

Com isto que acabei de falar, quero mostrar que esta ilha é apenas uma ilha num vasto oceano. Sua importância é fundamental para que possamos fazer nossas escolhas e seguir o caminho que desejamos em nossas vidas. Mas precisamos entender que há também um oceano.

Existem muitos fatores que participam do surgimento desta ilha a que estamos chamando de consciência. Fatores externos e internos. Nos fatores externos, temos nossa família, cultura, religião, educação e demais circunstâncias que vivemos no mundo que nos cerca. Já nos fatores internos, Jung diz que temos certas pré disposições que podem ser vistas por uma ótica genética ou corporal, mas que também precisa ser encarada como um mistério que a ciência ainda não foi capaz de desvendar.

Desta forma, a criança, no decorrer de sua vida, vem construindo sua estrutura de personalidade a partir da combinação destes inúmeros fatores, e o resultado podemos percebem em nós mesmos – uma pessoa que tem um jeito próprio de ver e viver a vida e que, mesmo que tudo esteja correndo bem, sabe em seu íntimo que há uma incompletude, que há uma imperfeição que, de tempos em tempos, algo externo ou interno rasga os véus da comodidade cotidiana e nos torna reféns de um sentimento ou comportamento que assola esta frágil identidade que construímos com tanto esforço.

Veja o que acabo de dizer!! “esta frágil identidade que construímos com tanto esforço.” Quando volto às palavras de Jung, que diz: “santificado pelo costume e tradição histórica, fundado na rocha do temperamento inato” – podemos agora entender o quanto é difícil realizar esta mudança. Ao dizer que santificamos essa rocha que é nossa personalidade, Jung procura nos dar uma idéia do quanto somos apegados a essa pequena ilha e também o quanto sofremos em momentos em que as intempéries da vida desestruturam nossa pequena visão de nós mesmos. Faço aqui uma menção ao personagem Gollum do filme Senhor dos Anéis e sua principal frase: “My Precious” (Minha preciosidade).

 

E o Oceano… onde ele está nisso tudo?

Este oceano é um “vir a ser”. Assim como o oceano que conhecemos abriga uma infinidade de formas de vida, muitas que ainda não conhecemos, assim também é nosso inconsciente para a psicoterapia junguiana. Não é, de fato, minha intenção aqui dar uma explicação mais aprofundada a respeito do inconsciente, afinal Jung dedicou centenas, senão milhares de páginas para nos dar uma noção deste mundo misterioso que vive em cada um de nós. Mas é preciso que saibamos reconhecer esta parte de nós mesmos.

Ao contrário de nossa personalidade, que está aparentemente sob nosso comando, o incosnciente tem vida e inteligência próprias. Mas Jung nos mostrou que sua intenção é sempre uma – nosso processo de Individuação. Há uma força em nós que sabe Tudo o que somos em potencial e esta força, enquanto estamos vivos, jamais deixa de penetrar nas diversas esferas de nossas vidas. Esta força realmente não quer a comodidade de nossa conduta habitual. Se nossa conduta habitual estiver em dissonância com essa inteligência interior, esta última virá por diversos caminhos para nos oferecer a possibilidade de reorientarmos nossos passos. Para mim, o personagem Gollum representa esse momento em que nossa visão de mundo e nossas atitudes já estão exalando o cheiro da decomposição e, ainda assim, não conseguimos ver nada além do anel. E o anel representa a gratificação que esta atitude nos traz. E aí é que temos que ter a coragem de nos fazer esta pergunta: “O que é que eu estou ganhando com esta atitude?”

Geralmente essa resposta não é tão óbvia quanto parece, mas aqui é possível entrar o papel do psicoterapeuta. Eu tenho absoluta certeza de que existem diversos caminhos para que uma pessoa trilhe seu processo de individuação, mas um deles é a Terapia. Um terapeuta bem treinado pode auxiliar a pessoa a ouvir seus deuses interiores e, devagar, abandonar velhas carcaças que, obcecadas pelo anel, escondiam suas maiores riquezas.

Palavras-chave: campinas, depressão, psicoterapia, jung, terapia, junguiana, psicologia, sofrimento, psicologia junguiana, mudança, persona, rotina
Artigos relacionados
Mais sobre Daniel e seu trabalho

Sobre
Psicologia Junguiana
Contato

Daniel Nunes atende no bairro Guanabara em Campinas. É pós-graduado em Psicologia Junguiana pelo Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa. Já participou de diversas formações e cursos voltados …

Site desenhado e construído pela Preface Design